Ouve lá ó Pai Natal
Ouve lá ó Pai Natal!, desta vez vou fazer-te pedidos sérios e espero que os oiças e os concretizes com igual grau de seriedade. Não quero respostas como a que me deste o ano passado em que te pedi para me deixares no sapatinho uma mulher bonita e inteligente e tu, feito palhaço!, respondeste que com essas características, e ainda por cima aplicadas de forma conjuntiva, me arriscaria a encontrar lá um homem. É claro que ripostei contra essa tua atitude machista, e do que é que isso me serviu? Carta vai carta vem e fiquei todo o ano a lerpar. Por isso ó Pai Natal, desta vez é muito a sério!
Não te vou pedir nada de especial, isto é, nada que não te peça todos os outros dias do ano em que não é Natal. Iria começar por te exigir uma casa e um carro novos, se não soubesse de antemão que irias entrar em argumentações e teorias do absurdo, assim, e só por isso, venho dizer-te para deixares a casa e carro sobre a minha responsabilidade mas, se não for muito incómodo, seres tu a tratar-me da burocracia envolvente. Nada que um Pai Natal, reformado assumido, não possa resolver nos tempos livres, quando passar esta fase alta. Prepara-me a planta, a licença de construção, regista-me essa coisa absurda a que se chamam de “o livro de obra”, olha-me a vistoria, a licença de habitação, o pré registro, o registro, a escritura, a selagem do contador da energia que aquilo sem o selo de chumbo não funciona, a baixada dos palhaços do SMAS que cobram ao metro linear de tubo mais que os ourives da Póvoa cobram ao metro linear de ouro, trata-me de toda a catrefada de impostos, o IMT e os outros, os de selo, seja lá o que isso signifique, os selos 17.1, 17.15 o 18, não sei se há mais mas pelo menos esses estão lá garantidinhos, não te esqueças de preencher o formulário a pedir a isenção de contribuição autárquica durante os 3 primeiros anos, depois muda-me, com um gesto de mágica que apenas a ti pode ser reconhecido, todos os endereços na minha documentação, nada complicado, olha só, a carta de condução, o cartão de contribuinte, o cartão da segurança social que nada segura no meu caso, o cartão do serviço nacional de saúde, todos os cartões de cada um dos movimentos a que pertenço, incluindo o dos alcoólicos anónimos, o meu bilhete de identidade o qual ainda ouso exibir com orgulho desmedido e patético. Trata-me disso porque em Portugal ainda é inconstitucional um português ter apenas um número. Olha-me toda essa burocracia e os burocratas que fazem andar o mundo à velocidade alucinante da escorregadela do caracol.
Depois Pai Natal, este ano recuso-me a pedir-te a paz no mundo. Sabes que o peço todos os dias e nem é com as intenções hipócritas do controlo dos preços da energia e tudo à sua volta. Não to peço porque quero facilitar-te a tarefa. Solicito apenas que acabes com algumas das injustiças sociais que grassam em Portugal e que, para espanto do meu espanto, parece que ninguém as vê ou as quer ver. Começa pelas injustiças sociais chamadas política e futebol. Pronto!, podes deixar para lá a injustiça social que é um homem feio andar com uma mulher bonita, mas as injustiças política e o futebol, por favor, cuida-me delas sem mais delongas. Digo-te com a maior das parcimónias que, se fores capaz de lidar com essas, todas as outras serão para ti como quem limpa cus a meninos.
Por último, e para que não digas que sou um chato, cria-me uma Santa Casa de Misericórdia, outra, uma nova, uma que não se chame Estado Português, com gestão privada, se faxavor.
Não te vou pedir nada de especial, isto é, nada que não te peça todos os outros dias do ano em que não é Natal. Iria começar por te exigir uma casa e um carro novos, se não soubesse de antemão que irias entrar em argumentações e teorias do absurdo, assim, e só por isso, venho dizer-te para deixares a casa e carro sobre a minha responsabilidade mas, se não for muito incómodo, seres tu a tratar-me da burocracia envolvente. Nada que um Pai Natal, reformado assumido, não possa resolver nos tempos livres, quando passar esta fase alta. Prepara-me a planta, a licença de construção, regista-me essa coisa absurda a que se chamam de “o livro de obra”, olha-me a vistoria, a licença de habitação, o pré registro, o registro, a escritura, a selagem do contador da energia que aquilo sem o selo de chumbo não funciona, a baixada dos palhaços do SMAS que cobram ao metro linear de tubo mais que os ourives da Póvoa cobram ao metro linear de ouro, trata-me de toda a catrefada de impostos, o IMT e os outros, os de selo, seja lá o que isso signifique, os selos 17.1, 17.15 o 18, não sei se há mais mas pelo menos esses estão lá garantidinhos, não te esqueças de preencher o formulário a pedir a isenção de contribuição autárquica durante os 3 primeiros anos, depois muda-me, com um gesto de mágica que apenas a ti pode ser reconhecido, todos os endereços na minha documentação, nada complicado, olha só, a carta de condução, o cartão de contribuinte, o cartão da segurança social que nada segura no meu caso, o cartão do serviço nacional de saúde, todos os cartões de cada um dos movimentos a que pertenço, incluindo o dos alcoólicos anónimos, o meu bilhete de identidade o qual ainda ouso exibir com orgulho desmedido e patético. Trata-me disso porque em Portugal ainda é inconstitucional um português ter apenas um número. Olha-me toda essa burocracia e os burocratas que fazem andar o mundo à velocidade alucinante da escorregadela do caracol.
Depois Pai Natal, este ano recuso-me a pedir-te a paz no mundo. Sabes que o peço todos os dias e nem é com as intenções hipócritas do controlo dos preços da energia e tudo à sua volta. Não to peço porque quero facilitar-te a tarefa. Solicito apenas que acabes com algumas das injustiças sociais que grassam em Portugal e que, para espanto do meu espanto, parece que ninguém as vê ou as quer ver. Começa pelas injustiças sociais chamadas política e futebol. Pronto!, podes deixar para lá a injustiça social que é um homem feio andar com uma mulher bonita, mas as injustiças política e o futebol, por favor, cuida-me delas sem mais delongas. Digo-te com a maior das parcimónias que, se fores capaz de lidar com essas, todas as outras serão para ti como quem limpa cus a meninos.
Por último, e para que não digas que sou um chato, cria-me uma Santa Casa de Misericórdia, outra, uma nova, uma que não se chame Estado Português, com gestão privada, se faxavor.
Reiterando a cordialidade inicial e agradecendo antecipadamente a atençãozinha, me subscrevo: Bocados